Ninguém vai carregar a sua mochila
Caro leitor,
Na carta desta semana, quero compartilhar uma história pessoal que mudou minha perspectiva sobre resistência e superação.
O ano era 2020, meados de março. Eu estava no início da minha carreira como Policial Federal recém-formado, atuando em Cruzeiro do Sul, no interior do Acre. Fui selecionado para participar de um curso operacional intensivo com o Exército Brasileiro: o EOS - Estágio de Operações na Selva, no 61° Batalhão de Infantaria de Selva.
Durante a instrução final, enfrentamos uma pista de pontos desafiadora. Eu e minha equipe deveríamos adentrar na densa Selva Amazônica com a missão de encontrar pontos específicos marcados no mapa antes do pôr do sol. O que parecia uma atividade de algumas horas se transformou em uma jornada de resistência física e mental.
No fim da tarde, quase 10 horas depois do início da atividade, carregando uma mochila de quase 40 quilos nas costas, além do fuzil e outros equipamentos, meu corpo começou a dar sinais de que havia chegado ao limite. A dor se espalhava por cada músculo, a fome e a sede eram constantes, até que minhas hérnias da coluna cervical começaram a gritar de dor e irradiar para o corpo todo.
Parecia que eu ia desmaiar a qualquer momento. Mas estávamos no meio da Selva Amazônica, cercados pela vegetação fechada, ainda longe da área de resgate que marcaria o fim da instrução. Quando pensei que não conseguiria mais dar um passo sequer, me encostei em uma árvore, tirei a mochila das costas e fechei os olhos, pedindo alguma força divina para continuar.
Foi então que senti uma mão no meu ombro e ouvi uma voz de dizendo: "Bora 35, ninguém vai carregar a tua mochila. Você entrou na selva com ela, e você vai sair da selva com ela, de pé e vibrando."
Aquelas palavras simples e diretas me fizeram abrir os olhos e olhar ao redor. Percebi que todos os meus companheiros estavam igualmente esgotados, cada um lutando contra suas próprias dores e limitações. Naquele momento, compreendi que não estava sozinho em minha luta, mas que cada um de nós precisava encontrar dentro de si a força para continuar.
Aquelas palavras me fizeram levantar, pegar minha mochila e seguir em frente até o fim da missão. Essa experiência me ensinou uma lição fundamental: quando achamos que estamos completamente esgotados, que não conseguimos mais fazer nada, muitas vezes é apenas nossa mente desistindo antes do nosso corpo.
A mente é poderosa. Se você disser a si mesmo que não aguenta mais, seu corpo obedecerá. Mas acredite: quando você acha que está acabado, ainda existe muito mais reserva de força dentro de você do que imagina. O corpo humano é capaz de suportar muito mais do que nossa mente nos faz acreditar.
Cada um de nós tem sua própria mochila para carregar. Alguns carregam o peso das responsabilidades familiares, outros lutam contra doenças, problemas financeiros, desafios profissionais ou traumas pessoais. Cada mochila tem seu peso específico, suas dores particulares e suas limitações únicas.
E de vez em quando, no meio da nossa jornada, vai parecer que não dá mais para seguir em frente. Os joelhos vão tremer, o peso vai parecer insuportável, e a vontade de desistir vai bater forte. Nesses momentos, lembre-se da lição que aprendi naquela selva: ninguém vai carregar sua mochila por você.
Isso não é uma sentença de solidão. É a constatação de que você tem dentro de si toda a força necessária para superar qualquer obstáculo. É a certeza de que, mesmo quando tudo parece impossível, você ainda pode dar mais um passo.
Então, quando a vida apertar, quando o peso parecer insuportável, lembre-se: levante a cabeça, ajuste a mochila nos ombros e siga em frente. Você é mais forte do que imagina.
Se esta carta chegou até você, é porque você tem força para carregar sua própria mochila. Continue.
Compartilhe essa carta com alguém.
Nos vemos na próxima carta.
Pedro Cooke.
Um tapa na cara pra quem vive com desculpas e põe o peso nelas nos seus limites sem medir ou tentar ir até o verdadeiro limite. 👏🏻👏🏻👏🏻
Oss